Origens
O Maxixe (também foi conhecido por Tango brasileiro) é uma dança de casal brasileira que esteve em moda entre o fim do século XIX e o início do século XX. Dançava-se acompanhada da forma musical do mesmo nome, contemporânea da polca e dos princípios do choro e que contou com compositores como Ernesto Nazareth e Patápio Silva. Mas o maior nome na composição de maxixes foi, sem dúvida, o da maestrina Chiquinha Gonzaga.
Teve a sua origem no Rio de Janeiro na década de 1870, mais ou menos quando o tango também dava os seus primeiros passos na Argentina e no Uruguai, do qual sofreria algumas influências. Dançada a um ritmo rápido de 2/4, notam-se também influências do lundu, das polcas e das habaneras.
Tal como o tango, este estilo foi também exportado para a Europa e Estados Unidos da América, no início do século XX.
O samba e a lambada são dois exemplos de danças que devem algumas contribuições de estilo ao Maxixe.
O lundu veio para o Brasil com os negros de Angola, por duas vias, passando por Portugal, ou diretamente da Angola para o Brasil.
Em Portugal recebeu polimentos da corte, como o uso dos instrumentos de corda, mas fora proibida por D. Manuel ao ser “contrária aos bons costumes”. Já a vinda direta da Angola para o Brasil recuperou o acento jocoso, mordaz e sensual que incomodara a sociedade lisbonense.
Aparece no Brasil no século XVIII como uma dança sem cantoria e de "natureza licenciosa", para os padrões da época. Nos finais do século XVIII, presente tanto no Brasil como em Portugal, o lundu evolui como uma forma de canção urbana, acompanhada de versos, na maior parte das vezes de cunho humorístico e lascivo, tornando-se uma popular dança de salão.
Durante todo o século XIX, o lundu é uma forma musical dominante, e o primeiro ritmo africano a ser aceito pelos brancos. Neste período, surgem os mais importantes compositores que representam esta forma musical (ver abaixo) e a viola é adotada entre os instrumentos de corda utilizados.
O lundu sai de evidência no início do século XX, mas deixa seu legado, pricipalmente no que tange ao ritmo sincopado, no maxixe (outro forma musical híbrida urbana que também deve suas origens à polca e à habanera). Musicólogos defendem que no lundu, como o primeiro ritmo afro-brasileiro em formato de canção e fruto de um sincretismo, está a origem do samba, via o maxixe, mas há controvérsias quanto a esse ponto.
Uma modalidade do lundu, a dança de roda, ainda é praticada na Ilha de Marajó e nos arredores de Belém, no estado do Pará, recentemente grupos culturais do entorno do DF (região limítrofe do DF e de Goiás) reiniciaram essa prática.
Jongo é uma manifestação cultural essencialmente rural, diretamente associada à cultura africana no Brasil e que influiu poderosamente na formação do Samba carioca em especial e da cultura popular brasileira como um todo.
Inserindo-se no âmbito das chamadas 'danças de umbigada' (sendo portanto aparentada com o 'Semba' ou 'Masemba' de Angola), o Jongo foi trazido para o Brasil por negros bantu, seqüestrados nos antigos reinos de Angola e do Congo, na região compreendida hoje por boa parte do território da República de Angola.
Composto por música e dança características, animadas por contendores que se desafiam por meio da improvisação, ali, no momento, com cantigas ou pontos enigmáticos ('amarrados') , o Jongo tem provavelmente, como uma de suas origens mais remotas (pelo menos no que diz respeito á estrutura dos pontos cantados), o tradicional jogo de adivinhas angolano denominado Jinongonongo. É característica e essencial à manifestação também, a evocação de símbolos cabalísticos ou rituais específicos, entre os quais, os mais evidentes estão ligados à fogueira e à bananeira, entidades propiciadoras, junto com a música das vozes e dos tambores, da ocorrência de fenômenos supostamente paranormais.
Da manifestação do Jongo podem participar homens e mulheres, mas esta participação, em sua forma original, sempre esteve, rigorosamente, restrita aos iniciados ou mais experientes da comunidade. Este fator pode estar relacionado a normas éticas e sociais ainda hoje vigentes na sociedade tradicional angolana, baseadas na obediência a um conselho de indivíduos 'mais velhos' e no 'culto dos ancestrais', hábitos a rigor bastante comuns em diversas outras sociedades tradicionais humanas.
Alguns indícios históricos indicam que o Jongo pode ter tido, em sua origem, alguma remota ligação com um hábito recorrente nas culturas africanas de expressão bantu durante o período colonial, de criar sistematicamente, sociedades secretas ou seitas político-religiosas especializadas.
Dançado e cantado outrora com o acompanhamento de urucungo (arco musical bantu, vulgarmente conhecido hoje como berimbau), viola e pandeiro, além de três tambores cerimoniais, utilizados até os nossos dias, chamados de 'Caxambu', o maior - que dá nome a manifestação em algumas regiões- 'Candongueiro', o menor e o tambor de fricção 'Ngoma-puíta' (que deu origem à cuíca do Samba), o Jongo é ainda hoje bastante praticado em diversas cidades de sua região original: o Vale do Paraíba na Região Sudeste do Brasil, ao sul do estado do Rio de Janeiro e ao norte do estado de São Paulo. Entre as diversas comunidades que mantêm (ou, até recentemente, mantiveram) a prática desta manifestação, pode-se citar, como exemplo, as localizadas na periferia das cidades de Valença, Vassouras , Paraíba do Sul e Barra do Piraí (Rio de Janeiro) além de Guaratinguetá e Lagoinha (São Paulo), com reflexos na região dos rios Tietê, Pirapora e Piracicaba, também em São Paulo (onde ocorre uma manifestação muito semelhante ao Jongo conhecida pelo nome de 'Batuque') e até em certas localidades no sul de Minas Gerais.
Na cidade do Rio de Janeiro, a região compreendida pelos bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, já nos anos imediatamente posteriores à abolição da escravatura, centralizou durante muito tempo a prática desta manifestação na zona rural da antiga Corte Imperial, atraindo um grande número de migrantes ex-escravos, oriundos das fazendas de café do Vale do Paraíba. Entre os precursores da implantação do Jongo nesta área se destacaram a ex-escrava Maria Teresa dos Santos muitos de seus parentes ou aparentados além de diversos vizinhos da comunidade, entre os quais Mano Elói (Eloy Anthero Dias), Sebastião Mulequinho e Tia Eulália, todos eles intimamente ligados a fundação da Escola de Samba Império Serrano, sediada no Morro da Serrinha.
A partir de meados da década 70, no mesmo Morro da Serrinha, o músico percussionista Darcy Monteiro 'do Império' (mais tarde conhecido como Mestre Darcy), a partir dos conhecimentos assimilados com sua mãe, a rezadeira Maria Joana Monteiro (discípula de Vó Teresa), passando a se dedicar á difusão e a recriação da dança em palcos, centros culturais e universidades, estimulando por meio de oficinas e workshops, a formação de grupos de admiradores do Jongo que, embora praticando apenas aqueles aspectos mais superficiais da dança, deslocando-a de seu âmbito social e seu contexto tradicional original, dão hoje a ela alguma projeção nacional.
Ainda no âmbito da cidade do Rio de Janeiro, é digno de nota também o 'Caxambu do Salgueiro', grupo de Jongo tradicional que, comandado por Mestre Geraldo, animou, pelo menos até o início da década de 1980, o Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca e era composto por figuras históricas daquela comunidade, entre as quais Tia Neném e Tia Zezé, famosas integrantes da ala das baianas da Escola de Samba G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro.
SAMBA SAMBA SAMBA
O primeiro registro da palavra "samba" aparece na Revista O Carapuceiro, de Pernambuco, em 3 de fevereiro de 1838, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama, escreve contra o que chamou de "samba d'almocreve".
Em meados do século 19, a palavra samba definia diferentes tipos de música introduzidas pelos escravos africanos, desde o Maranhão até São Paulo.
O samba carioca provavelmente recebeu muita influência de ritmos da Bahia, com a transferência de grande quantidade de escravos para as plantações de café no Estado do Rio, onde ganhou novos contornos, instrumentos e histórico próprio, de forma tal que, o samba moderno, como gênero musical, surgiu no início do século 20 na cidade do Rio de Janeiro (a capital brasileira de então). Muitos pesquisadores apontam para os ritmos do maxixe, do lundu e da modinha como fontes que, quando sintetizadas, deram origem a ao samba moderno.
O termo "escola de samba" é originário deste período de formação do gênero. O termo foi adotado por grandes grupos de sambistas numa tentativa de ganhar aceitação para o samba e para a suas manifestações artísticas; o morro era o terreno onde o samba nascia e a "escola" dava aos músicos um senso de legitimidade e organização que permitia romper com as barreiras sociais.
O samba-amaxixado Pelo telefone, de domínio público mas registrado por Donga e Mauro Almeida, é considerado o primeiro samba gravado, embora Bahiano e Ernesto Nazaré tenham gravado pela Casa Édison desde 1903. É deles o samba "A viola está magoada". Há registros também do samba "Em casa de Baiana" (1913), de autoria de Alfredo Carlos Brício. Porém ambos não fizeram muito sucesso, e foi a composição registrada por Donga que levou o gênero para além dos morros. Donga chegou a anunciar "Pelo telefone" como "tango-samba", no Jornal do Brasil de 8 de janeiro de 1917.
Nos anos trinta, um grupo de músicos liderados por Ismael Silva fundou, na vizinhança do bairro de Estácio de Sá, a primeira escola de samba, Deixa Falar. Eles transformaram o gênero, dando-lhe os contornos atuais, inclusive coma introdução de novos instrumentos, como o surdo e a cuíca, para que melhor se adequasse ao desfile de carnaval. Nesta mesma época, um importante personagem também foi muito importante para a popularização do samba: Noel Rosa. Noel é responsável pela união do samba do morro com o do asfalto. É considerado o primeiro cronista da música popular brasileira. Nesta época, a rádio difundiu a popularidade do samba por todo o país, e com o suporte do presidente Getúlio Vargas, o samba ganhou status de "música oficial" do Brasil.
Nos anos seguintes o samba se desenvolveu em várias direções, do samba canção às baterias de escolas de samba. Um dos novos estilos foi a bossa nova, criado por membros da classe média, dentre eles João Gilberto e Antonio Carlos Jobim.
Nos anos sessenta os músicos da bossa nova iniciaram um movimento de resgate dos grandes mestres do samba. Muitos artistas foram descobertos pelo grande público neste momento. Nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti e Clementina de Jesus gravaram os seus primeiros discos.
Nos anos setenta o samba era muito tocado nas rádios. Compositores e cantores como Martinho da Vila, Bezerra da Silva, Clara Nunes e Beth Carvalho dominavam as paradas de sucesso.
No início da década de 1980, depois de um período de esquecimento onde as rádios eram dominadas pela música de discoteca e pelo rock brasileiro, o samba reapareceu no cenário brasileiro com um novo movimento chamado de pagode. Nascido nos subúrbios cariocas, o pagode era um samba renovado, que utilizava novos instrumentos, como o banjo e o tantã, e uma linguagem mais popular. Os nomes mais famosos foram Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Grupo Fundo de Quintal, Jorge Aragão e Jovelina Pérola Negra.
Atualmente o samba é um dos gêneros musicais mais populares no Brasil.
Subgêneros
Samba comum
O samba é caracterizado por uma seção de ritmo contendo a marcação, geralmente surdo ou tantan, o `coração do samba'; e seu núcleo mais importante é geralmente reconhecido como cavaco e pandeiro.
O cavaquinho é a conexão entre a seção de harmonia e a seção de ritmo, e costuma ser reconhecido como um dos instrumentos harmônicos mais percussivos existentes; sua presença, via de regra, diferencia o verdadeiro samba de variações mais suaves como a Bossa Nova (embora haja algumas gravações de samba que não usem o cavaco, e.g. de Chico Buarque).
O pandeiro é o instrumento percussivo mais presente, aquele cuja batida é a mais completa. Um violão está sempre presente, e a maneira de tocar violão no samba popularizou o violão de 7 cordas, por causa das sofisticadas linhas de contraponto utilizadas no gênero nas cordas mais graves.
As letras falam basicamente de qualquer coisa, já que o samba é o ritmo nacional brasileiro. Esse subgênero engloba todos os outros.
Artistas Famosos: Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Wilson Moreira, Teresa Cristina & Grupo Semente
Partido alto
Esse termo é utilizado para denominar um tipo de samba que é caracterizado por uma batida de pandeiro altamente percussiva, com uso da palma da mão no centro do instrumento para estalos. A harmonia do partido alto é sempre em tom Maior.
Geralmente tocado por um conjunto de instrumentos de percussão (normalmente surdo, pandeiro e tamborim) e acompanhado por um cavaquinho e/ou por um violão, o partido alto costuma ser dividido em duas partes, o refrão e os versos. Partideiros costumam improvisar nos versos, com disputas comuns, e improvisadores talentosos fizeram sua fama e carreira no samba, como Zeca Pagodinho, que é não só um grande sambista de propósito geral como um dos melhores improvisadores.
Artistas Famosos: Candeia, Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Aniceto do Império, Sombrinha, Nei Lopes, Almir Guinéto, Camunguelo,Xangô da Mangueira, Nilton Campolino
Pagode
Hoje é a forma de samba que se difunde entre as periferias dos centros urbanos do Brasil, surgida nos anos 80 com a introdução de três novos instrumentos, o banjo, o tantan e o repique de mão.
Usualmente é cantado por uma pessoa acompanhada por cavaquinho, violão e pelo menos por um pandeiro. As letras são descontraídas, falam normalmente de amor ou qualquer situação engraçada. Quase sempre as letras não tem grande expressão, sendo maior preocupação a aliteração do que o conteúdo.
Artistas famosos: Raça Negra, Katinguelê,Sorriso Maroto,Revelação,Jeito Moleque.
agogô e às vezes berimbal metalizado, apesar de manter os instrumentos do Pagode. Alguns grupos, como Gera Samba, continuaram a tocar Pagode tradicional, já outros apresentam o Neo-pagode tipificado como Olodum & Samba.
Grupos / Artistas famosos: É o Tchan, Gera Samba, Terra Samba, Kiloucura, Molejo, Inimigos da Hp
Samba de Breque
Hoje um gênero morto, as músicas do samba de breque eram intercaladas com partes faladas, ou diálogos. Os cantores, necessariamente, tinham um excelente dom vocal e habilidade de fazer vozes diferentes. As letras contavam histórias e eram jocosas.
Artistas famosos: Moreira da Silva
Samba-Canção
O samba-canção foi muito executado nas rádios, com grande influências do estilo e da melodia do Bolero e ballad americano. As canções deste gênero são românticas e de ritmo mais lento. Os temas variam do puramente lírico ao trágico.
Artistas famosos: Noel Rosa, Ângela Maria, Alexandre Pires, Nora Ney, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Agnaldo Rayol, Dolores Duran, Maysa Matarazzo, Lindomar Castilho. As intérpretes desse gênero ficaram conhecidas como as divas da Era de Ouro do Rádio.
Samba-Exaltação
O samba-exaltação, é caracterizado por composições "meta-regionais", o ufanismo observado nas composições exalta por assim dizer a cultura do país e não um folclore específico, constituindo o primeiro momento de exportação da música popular sem precedentes na história, apresentando as cores, a aquarela do país ao resto do mundo. Aquarela do brasil, de Ary Barroso, é a composição que inaugura esse estilo de samba. Carmen Miranda destaca-se como uma das grandes expoentes.
Samba-Enredo
O samba enredo é o estilo cantado pelas escolas de samba durante os desfiles de carnaval. A letra do samba-enredo, normalmente, conta uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da apresentação da escola de samba. Em geral, a música é cantada por um homem, acompanhado sempre por um cavaquinho e pela bateria da escola de samba, produzindo uma textura sonora complexa e densa, conhecida como batucada.
Bossa Nova
A bossa nova é um estilo originalíssimo de samba brasileiro que surgiu na década de 1960.
Este estilo é uma fusão dos estilos do jazz com o samba.
Durante muitos anos foi o samba das praias e bares do Rio de Janeiro.
A Bossa Nova foi bem original no seu estilo criativo, pois introduziu o repique de mão e a viola eletrônica, imitando a guitarra nos tons mais finos, fazendo uma melodia com forte influência das melodias americanas mescladas com batidas abrasileiradas. As interpretações são marcadas por um tom suave, intimista ou sussurrado.
Gravado em 1958 o LP Canção do Amor Demais, é considerado axial para a inauguração deste movimento, surgido em 1957.
O antológico LP trazia ainda, também da autoria de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, Chega de saudade, Luciana, Estrada branca, Outra vez.
A melodia ao fundo foi composta com a participação de um jovem baiano que tocava seu violão de maneira original, inédita: o jovem João Gilberto.
Samba Reggae
É um estilo de samba que teve origem na Bahia no ano 2000.
Na década de 1980 havia manifestações culturais de batidas latinas misturadas com axé music e melodias parecidas com reggae, porém isso não foi suficiente para definir o estilo.
Por volta de 2000, grupos como Gera Samba e Cidade Negra, além da famosa cantora Daniela Mercury, resgataram estas manifestações.
Neste momento surgiu o Samba Reggae que, por sua vez, evoluiu introduzindo instrumentos comuns em músicas de origem latina e instrumentos de samba como pandeiro e tambor, além de guitarra ou viola eletrônica no lugar do cavaquinho. O Samba Reggae é um samba essencialmente praiano, que narra as situações da vida dos seus autores (geralmente negros) como personagens de praia.
Artistas e grupos famosos: Terra Samba, Cidade Negra, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Armandinho, Inimigos da HP,
Outras variantes
O samba de roda é um estilo musical tradicional afro-brasileiro, associado a uma dança que por sua vez está associada à capoeira. É tocado por um conjunto de pandeiro, atabaque, berimbau, viola e chocalho, acompanhado por canto e palmas.
O samba teria surgido por inspiração sobretudo de um ritmo africano, o semba, e teria sido formado a partir de referências dos mais diversos ritmos tribais africanos. Note-se que a diversidade cultural, mesmo dentro da raça negra no Brasil, era bastante notável, porque os senhores de escravos escolhiam aleatoriamente seus indivíduos, e isso tanto fez separarem tipos africanos afins, pertencentes a uma mesma tribo, quanto fez juntarem tipos africanos diferentes, alguns ligados a tribos que eram hostis em seu continente original. Isso transformou seriamente o ambiente social dos negros, não bastasse o novo lugar onde passariam a viver, e isso influenciou decisivamente na originalidade da formação do samba brasileiro, com a criação de formas musicais dentro de um diferente e diverso contexto social.
O Samba de Roda no Recôncavo Baiano, é uma mistura de música, dança, poesia e festa. Presente em todo o estado da Bahia, o samba é praticado, principalmente, na região do Recôncavo. Mas o ritmo se espalhou por várias partes do país, sobretudo Pernambuco e Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro, já na sua condição de Distrito Federal, se tornou conhecido como a capital mundial do samba brasileiro, porque foi nesta cidade onde o samba se evoluiu, adquiriu sua diversidade artística e estabeleceu, na zona urbana, como um movimento de inegável valor social, como um meio dos negros enfrentarem a perseguição policial e a rejeição social, que via nas manifestações culturais negras uma suposta violação dos valores morais, atribuindo a elas desde a simples algazarra até a supostos rituais demoníacos, imagem distorcida que os racistas atribuíram ao candomblé, que na verdade era a expressão religiosa dos povos negros, de inegável importância para seu povo.
Com a modernização e urbanização do samba, vieram então vários nomes. Em 1907, veio o primeiro samba gravado em disco, "Pelo Telefone", pelo cantor e compositor Donga, e, ao longo do tempo, vieram outros cantores e autores de sambas: Ataulfo Alves, Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, entre tantos outros.
Dos ritmos derivativos do samba, o mais controverso foi o da Bossa Nova, na década de 1950. Lançada por artistas como Antônio Carlos Jobim e João Gilberto (este, baiano de Juazeiro, o inventor do ritmo tocado no violão), a Bossa Nova é acusada pelo historiador da música brasileira, José Ramos Tinhorão, de ter se distanciado da evolução natural do samba e se limitar apenas a aproveitar parte de seu ritmo para juntá-lo à influência do jazz e dos standards (a música popular cinematográfica de Hollywood, cujo maior ídolo foi Frank Sinatra). Os defensores da Bossa Nova, no entanto, embora reconheçam que o ritmo pouco tenha a ver com a realidade das favelas cariocas (por sinal, removidas dos principais bairros da Zona Sul pelos governos estaduais nos anos 50 e 60), no entanto afirmam que a BN contribuiu inegavelmente para o enriquecimento da música brasileira e para o reconhecimento do samba no exterior.
A manifestação cultural, na sua forma contemporânea, está presente em obras de compositores baianos como Dorival Caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso. Recentemente, o samba é representado por nomes como Zeca Pagodinho e Dudu Nobre.
O QUE É SAMBA ROCK?
A gente pra viver bem nesse mundo
tem que ser um pouco mais inteligente,
como já dizia a minha velha avó:
"Macaco velho não põe a mão na cumbuca!"
Com o meu avô eu aprendi
que não se cutuca onça com a vara curta!
Mas quando a minha mãe vinha me dizer
pra tomar cuidado com esse mundo louco
Eu não quis ouvir
Eu não quis ouvir
Só fui ouvir é de um tio malandro que eu tenho
quando ele me dizia:
"Com'é que é meu?!"
Segura a nega
Segura a nega, viu?
Segura nega!
Segura a nega, viu? Clube do Balanço - Segura a Nega
É difícil responder esta pergunta.
Dá para descrever o que é uma batida de um tamborim? Mas tentarei falar o que é o samba-rock, ritmo que redescobri através do primeiro CD de um grupo paulista denominado Clube do Balanço.
O nome "samba-rock foi dito pela primeira vez por Jackson do Pandeiro, na música Chiclete com Banana, de Gordurinha.
Os primórdios do samba-rock começa nos anos 50, numa atitude contra o apartheid racial que informalmente existia no país.
Impedidos de entrar nos bailes com orquestras chiques ou pelo valor do ingresso ou simplesmente pelo segurança, o nosso povo começou a colocar o som através dos que chamaremos hoje dos pais dos DJs.
A musica era executada através de uma seleção de discos ou mesmo fitas cassetes.
Neste clima o pessoal foi copiado o estilo de dançar twist norte-americano, num estilo que misturava também o swing do samba.
Algo único e novo.
Ritmo
O inventor do samba-rock como música é Jorge Ben Jor, que nega até hoje.
Há que teorize sobre o arranjador Sergio Mendes, que misturou samba, bossa nova e jazz. Erasmo Carlos também foi identificado no teste de DNA do ritmo.
Mas o grande Jorge Ben no disco “O Bidu” é realmente o pai do samba-rock.
Depois uma geração de músico adaptou o samba, que era tradicionalmente tocado em compasso binário (2/4), ao compasso quaternário (4/4) do rock.
Além de usar instrumentos elétricos, como guitarras.
Ainda no fim dos anos 60 outros exemplos de como o samba poderia caber na moldura rítmica do rock-soul:
a Pilatragem de Carlos Imperial e Wilson Simonal (que fez de País Tropical, de Jorge Ben Jor, um de seus cavalos de batalha) e a farra orquestral do maestro Erlon Chaves (que concorreu em 1970, no V Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, cantando Eu Quero Mocotó, também de Jorge, acompanhado por sua Banda Veneno).
Nos anos 70, a voz potente de Tim Maia popularizaria o samba-soul, emplacando dois sucessos nesse estilo: Réu Confesso e Gostava Tanto de Você. Jorge Ben Jor teve uma queda para o funk a partir do disco A Banda do Zé Pretinho (1978), mas artistas por ele diretamente influenciados seguiram a sua orientação anterior, com muito sucesso em bailes do subúrbio carioca.
É o caso de Bebeto (O Negócio é Você Menina, Flamengo) e de Serginho Meriti.
Em São Paulo, os bailes de periferia também ferviam ao som do samba-rock-suíngue, de nomes como o Trio Mocotó (que originalmente acompanhava Jorge Ben Jor), Copa 7, Luiz Vagner (que foi do grupo de jovem guarda Os Brasas, homenageado por Ben Jor com a música Luiz Vagner Guitarreiro), Branca Di Neve (falecido em 1989), Carlos Dafé, Dhema, Franco (também ex-Os Brasas), Abílio Manoel e Hélio Matheus.
De fins dos 60 para os 70 são gravadas as músicas que iriam se tornar os grandes clássicos dos bailes:
"Pena verde" e "Luisa manequim", de Abilio Manuel, "Zamba-bem", de Marku Ribas, "Para sempre sem Bronquear", pelos Golden Boys, "Guitarreiro", de Luiz wagner.
Os anos 70 trazem a fase áurea dos Originais do Samba, com sambas swingados como "Falador Passa Mal" e "Do Lado Direito da Rua Direita".
Em fins dos anos 70, o disco Baiano e os Novos Caetanos, traz a célebre "Vô Batê pra Tú", de Arnaud rodrigues e Orlandivo.
Nomes como Erlon Chaves, Bebeto, Di Mello, Orlandivo, Elizabeth Viana, Dóris Monteiro, nem sempre devidamente lembrados quando se fala se MPB, são os grandes nomes quando o assunto é samba-rock.
Já no começo dos anos 80, o grande Branca de Neve grava dois discos antológicos, deixando várias pedradas como "Kid Brilhantina" e "Nego Dito" (uma reconstrução, ou desconstrução fantástica de Itamar Assumpção). Vale dizer que o célebre hit "Não Adianta", com o Trio Mocotó, foi gravado nos anos 70, mas só chegou aqui pelos 80, se tornando um sucesso.
O tremendão Erasmo Carlos contribuiu para o estilo, marcando presença com os clássicos "Mané João" e "Coqueiro Verde", imortalizada para sempre como samba-rock pelo Trio Mocotó. A nossa bossa nova, relida e misturada com o blues e com o jazz pelos gringos é outra fonte de hits dos bailes, a exemplo de "Soul Bossa Nova", com a orquestra de Quincy Jones.
Um pouco mais e outras fontes
A
História com suíngue
O
samba refletiu as transformações políticas, culturais e de comportamento do
país no século XX
Anos
10
1917
"Pelo Telefone" – Donga
O
chefe da polícia/Pelo telefone/Manda me avisar/Que na carioca tem uma
roleta/Para se jogar
Naquele
que é considerado o primeiro samba a ser gravado, toques da malandragem que
caracterizavam a boêmia carioca no início do século XX
Anos
20
1920
"Fala, Meu Louro" –
Sinhô
A
Bahia não dá mais coco/Pra botar na tapioca... (...)/Papagaio louro/Do bico
dourado/Tu falavas tanto/Qual a razão que vives calado
O
samba foi uma sátira à derrota de Rui Barbosa (foto) na
eleição presidencial do ano anterior, quando ele teve menos da metade dos votos
de Epitácio Pessoa
1926
"Pega-Rapaz" – Sinhô
Ó
menina/Que moda é essa de seu vestido/Oi!/Curto na frente, comprido atrás/Isso
é moda de pegar rapaz/Ó menina/Que moda é essa de seu cabelo/Oi!/Curto na
frente,/Raspado atrás/Isso é moda de pegar rapaz
Sinhô
retratava mudanças no comportamento feminino, com roupa e penteado que chamavam
a atenção dos homens de então
Anos
30
1933
"Onde Está a Honestidade?" – Noel
Rosa
Você
tem palacete reluzente/Tem jóias e criados à vontade/Sem ter nenhuma herança ou
parente/Só anda de automóvel na cidade... /E o povo já pergunta com maldade:
/Onde está a honestidade?/Onde está a honestidade?
Noel (foto) faz
um dos primeiros sambas com fundo de crítica política e social
Anos
40
1940
"Aurora" – Mário
Lago e Roberto Roberti
(...)
Um lindo apartamento/Com porteiro e elevador/E ar refrigerado/Para os dias de
calor/Madame antes do nome/Você teria agora/Ô ô ô ô, Aurora
A
letra fazia alusão aos edifícios de apartamentos, nova coqueluche nos anos 40
1941
"O Bonde de São Januário" – Ataulfo Alves e Wilson Batista
(...)
Quem trabalha é que tem razão/Eu digo e não tenho medo de errar/O bonde de São
Januário/Leva mais um operário/Sou eu que vou trabalhar (...)/A boêmia não dá
camisa a ninguém
O
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) – órgão de repressão do Estado Novo
de Getúlio Vargas – pressionava os sambistas para não mais falar de
malandragem, e sim enaltecer o trabalho
Anos
50
1951
"Maria Candelária" – Armando
Cavalcanti e Klécius Caldas
Maria
Candelária/É alta funcionária/(...) À uma vai ao dentista/Às duas vai ao
café/Às três vai à modista/Às quatro assina o ponto/dá no pé!/Que grande
vigarista que ela é!
A
vida boa dos funcionários públicos era motivo de chacota. A Candelária do
título é uma alusão à igreja que fica na confluência das avenidas Presidente
Vargas e Rio Branco, onde muitos trabalhadores tomavam ônibus de volta para
casa
1952
"Lata d'Água" – Luís
Antônio e Jota Júnior
Lata
d'água na cabeça/Lá vai Maria (...)/Maria lava a roupa lá no alto/Lutando pelo
pão de cada dia/Sonhando com a vida no asfalto/Que acaba onde o morro principia
Um
retrato do cotidiano e da desesperança das favelas, áreas mais pobres das
cidades
1955
"Tiradentes" – Mano
Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado
Joaquim
José da Silva Xavier/Morreu a 21 de abril/Pela Independência do Brasil/Foi traído,
e não traiu jamais/A Inconfidência de Minas Gerais
Samba-enredo
do Império Serrano, foi o primeiro do gênero a saltar do desfile das escolas
para o sucesso popular. Contava a passagem histórica da Inconfidência Mineira
1959
"Chiclete com Banana" – Gordurinha
e Almira Castilho
Eu
só boto be-bop no meu samba/Quando o Tio Sam tocar um tamborim/Quando ele pegar
num pandeiro e num zabumba/Quando ele aprender que o samba não é rumba/Aí eu
vou misturar Miami com Copacabana/Chiclete eu misturo com banana/E o meu samba
vai ficar assim (...)
A
crescente influência da música americana na brasileira é alvo desta marchinha
de Gordurinha (foto),
que propõe um intercâmbio entre os dois países
Anos
60
1963
"Cabeleira do Zezé" – João
Roberto Kelly e Roberto Faissal
Olha
a cabeleira do Zezé/Será que ele é/Será que ele é...?/Será que ele é
bossa-nova?/Será que ele é Maomé?/Parece que é transviado/Mas isso eu não sei
se ele é!/Corta o cabelo dele!
A
mudança dos rapazes cabeludos, que seguiam o modismo criado pelos Beatles
1965
"Opinião" – Zé
Keti
Podem
me prender/Podem me bater/Podem, até deixar-me sem comer/Que eu não mudo de
opinião
Foi
feito como resistência ao processo de remoção de favelas no então Estado da
Guanabara, mas virou símbolo da resistência política à ditadura militar
Anos
70
1970
"Apesar de Você" – Chico
Buarque
Apesar
de você/Amanhã há de ser/Outro dia
Chico
Buarque lançou essa música ao voltar para o país. A censura do governo militar
demorou a perceber a provocação e a recolher o disco
1975
"De frente pro Crime" – João
Bosco e Aldir Blanc (foto)
Tá
lá o corpo estendido no chão/Em vez de um rosto uma foto de um gol/Em vez de
reza uma praga de alguém/E um silêncio servindo de amém
A
violência urbana e a indiferença da população ganham as letras dos sambas com
Bosco e Aldir
Anos
80
1984
"Vai Passar" – Chico
Buarque e Francis Hime
Num
tempo/Página infeliz da nossa história/Passagem desbotada na memória/Das nossas
novas gerações/Dormia/A nossa pátria mãe tão distraída/Sem perceber que era
subtraída/Em tenebrosas transações
Outra
letra política de Chico Buarque, aqui às vésperas da eleição de Tancredo Neves (foto)no
Colégio Eleitoral, após o regime militar
Anos
90
1997
"Pela Internet" – Gilberto
Gil
Criar
meu web site/Fazer minha home-page/Com quantos gigabytes/Se faz uma jangada/Um
barco que veleje/Que veleje nesse infomar/Que aproveite a vazante da
infomaré/Que leve um oriki do meu velho orixá/(...)/Que o chefe da polícia
carioca avisa pelo celular/Que lá na praça Onze tem um vídeopôquer para se
jogar
Gilberto
Gil retrata o mundo da informática, com uma citação ao primeiro samba gravado,
"Pelo Telefone"
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A história do samba
Saiba mais sobre o
gênero que se transformou em identidade nacional e sofreu influências de
diversos ritmos
GRAZIELA SALOMÃO
O samba, como conhecemos
atualmente, tem origem afro-baiana, temperado com misturas cariocas. Nasceu
da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos escravos
brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter
social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje.
O gênero, descendente do lundu
(canto e dança populares no Brasil do século XVIII), começou como dança de
roda originada em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a
região da Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque, consistia em um
dançarino no centro de uma roda, que dançava ao som de palmas, coro e objetos
de percussão e dava uma ''umbigada'' em outro companheiro da roda,
convidando-o a entrar no meio do círculo.
Com a transferência, no meio do
século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahia para o Vale do Paraíba e, logo
após, o declínio da produção de café e a abolição da escravatura, os negros
deslocaram-se em direção a capital do país, Rio de Janeiro.
Instalados nos bairros cariocas de
Gamboa e Saúde, eles dariam início à divulgação dos ritmos africanos na
Corte. Eram nas casas das tias baianas, como Amélia, Ciata e Prisciliana, que
aconteciam as festas de terreiro, as umbigadas e as marcações de capoeira ao
som de batuques e pandeiros. Essas manifestações culturais propiciariam,
conseqüentemente, a incorporação de características de outros gêneros
cultivados na cidade, como a polca, o maxixe e o xote. O samba carioca urbano
ganha a cara e os ritmos conhecidos.
Em 1917 foi gravado em disco o
primeiro samba chamado ''Pelo Telefone''. A música, de autoria reivindicada
por Donga (Ernesto dos Santos), geraria polêmica uma vez que, naquele tempo,
a composição era feita em conjunto. Essa canção, por exemplo, foi criada numa
roda de partido alto (pessoas que partilhavam dos antigos conhecimentos do
samba e designava música de alta qualidade), do qual também participaram
Mauro de Almeida e Sinhô (José Barbosa da Silva), que se auto-intitulou ''o
rei do samba''.
Após a primeira gravação, o samba
conquistaria o mercado fonográfico e, com a inauguração do rádio em 1922 -
único veículo de comunicação em massa até então -, alcançaria as classes
médias cariocas. O novo estilo seria, ainda, abraçado e redimensionado por
filhos de classe média, como o ex-estudante de Medicina Noel Rosa e o
ex-estudante de Direito, Ari Barroso, através de obras memoráveis como
''Tarzan, o filho do alfaite'' e ''Aquarela do Brasil''.
O advento do rádio ainda
transformaria nomes como Francisco Alves, Orlando Silva e Carmen Miranda em
grandes ídolos do samba.
As escolas de samba do Rio de
Janeiro
Entre as décadas de 20 e 30, o
gênero ganharia muitas variações tais como o samba-enredo, o samba-choro e o
samba-canção. É desse período, também, o surgimento dos sambas criados para
os grandes blocos de Carnaval. A primeira escola de samba surgiria em 1929 no
Estácio - tradicional bairro de boêmios e da malandragem da cidade. Chamada
de 'Deixa Falar', fez sua primeira aparição na Praça Onze como um bloco de
corda e inovava no ritmo: a nova batida era capaz de contagiar qualquer
folião, diferentemente dos sons anteriores mais monótonos.
No ano seguinte, novas cinco
escolas surgiriam para participar do desfile na Praça Onze: a ''Cada Ano Sai
Melhor'' (do Morro de São Carlos), a ''Estação Primeira de Mangueira'', a
''Vai como Pode'' (atual Portela), a ''Para o Ano Sai Melhor'' (do Estácio) e
a ''Vizinha Faladeira'' (das redondezas da Praça Onze). Com a repercussão do
gênero, a cada ano surgiam mais escolas para participar dos desfiles de Carnaval.
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As transformações do samba
O gênero que conquistou o título de
identidade do Brasil dentro do país e no exterior, também cativou muitos
adeptos no cenário artístico. Cada um deles deu sua contribuição ao estilo,
surgindo diferente ramificações do tradicional samba.
O baiano Dorival Caymmi emprestou
um pouco do seu refinamento às canções enquanto o também conterrâneo
Batatinha incorporaria seu sotaque regional a enredos tristes. O paulistano
Adoniran Barbosa encheria suas músicas com seu humor sarcástico enquanto o
gaúcho Lupicínio Rodrigues, influenciado pelo bolero, trataria de temas
sentimentais em suas composições. O samba ganharia, em cada região e com cada
intérprete ou compositor, uma característica particular.
A influência cultural americana,
logo após a Segunda Grande Guerra, também repercutiria no gênero. Com um modo
diferente de dividir o fraseado do samba e inspirados no impressionismo do
jazz e do erudito, surgiria através de João Gilberto e Tom Jobim a bossa nova
nos anos 50. O novo estilo ganharia repercussão internacional. Dissidências
internas desse grupo ainda propiciariam o surgimento dos afro-sambas de Baden
Powell e Vinicius de Moraes.
Uma corrente mais popular faria
ressurgir o samba tradicional do morro no final da década de 60 nas vozes de
Cartola, Nelson Cavaquinho e, mais adiante, Candeia, Chico Buarque de Holanda
e Paulinho da Viola. Este mesclou o estilo ao choro e se transformaria em um
ícone do samba tradicional para a corrente mais vanguardista até hoje.
Outro grande nome do samba é
Martinho da Vila que, além de popularizar o partido-alto, revalorizou os
sambas-enredos para o mercado musical. O samba-reggae, com toadas do rhythm & blues americano teria em Jorge Bem seu criador e
divulgador.
Nos anos 70, três divas do samba
lançariam seus nomes na história do gênero: Alcione, Beth Carvalho e Clara
Nunes. Os anos 80 destacariam o movimento do pagode, com um ritmo pontuado
pelo banjo e pela percussão do tantan, com nomes como Zeca Pagodinho e o
grupo Fundo de Quintal. O samba-pop da década de 90 também se auto-intularia
pagode e produziria grupos em grande escala não muito próximos do samba de
raiz.
No final da década de 90, o antigo
samba seria revalorizado com nomes de grandes artistas do gênero como Nelson
Sargento, Wilson das Neves e as Velhas Guardas da Portela e da Mangueira.
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ação:
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Coleção "História do Samba", lançada
pela Editora Globo, composta por 40 CDs e fascículos. Exceção feita à faixa 1,
ficha técnica do disco sem créditos para os músicos e arranjadores. Procurar
- pelo nome do intérprete, título da música, e data de gravação - os discos
originais. É surpreendente que em nenhum dos discos haja uma faixa sequer com
Elis Regina. No entanto, ela está na capa do volume 34.
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Música(s):
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faixa 01
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Pelo Telefone (1955)
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Compositor(es):
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Músico(s):
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Grupo da Velha Guarda : Diversos
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Pixinguinha : Saxofone Tenor
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Part. Especial(ais):
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Arranjador(es):
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faixa 02
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Batuque Na Cozinha (1972)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Martinho da Vila : Voz
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faixa 03
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Cabritada Mal Sucedida (1953)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Geraldo Pereira : Voz
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faixa 04
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Feitio De Oração (1965)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Maria Bethânia : Voz
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faixa 05
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Pot-pourri (1973)
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Compositor(es):
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Ismael Silva : Voz
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faixa 06
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Abre A Janela (1938)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Orlando Silva : Voz
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faixa 07
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Patrão, Prenda Seu Gado (1974)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Martinho da Vila : Voz
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faixa 08
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Acertei No Milhar (1935)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Jorge Veiga : Voz
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faixa 09
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Palpite Infeliz (1935)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Aracy de Almeida : Voz
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faixa 10
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Se Acaso Você Chegasse (1938)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Cyro Monteiro : Voz
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faixa 11
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Eu Gosto Da Minha Terra (1930)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Carmen Miranda : Voz
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faixa 12
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Canta Brasil (1992)
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Compositor(es):
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Part. Especial(ais):
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Angela Maria : Voz
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Cauby Peixoto : Voz
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Origens do Samba,
Significado, História do Samba e Principais Sambistas
O samba surgiu da
mistura de estilos musicais de origem africana e brasileira. O samba é tocado com instrumentos de percussão (tambores,
surdos timbau) e acompanhados por violão e cavaquinho. Geralmente, as letras de
sambas contam a vida e o cotidiano de quem mora nas cidades, com destaque para
as populações pobres. O termo samba é de origem africana e tem seu significado
ligado às danças típicas tribais do continente.
As raízes do samba
foram fincadas em solo brasileiro na época do Brasil Colonial, com a chegada da
mão-de-obra escrava em nosso país.
O primeiro samba gravado no Brasil foi Pelo Telefone, no ano de 1917,
cantado por Bahiano. A letra deste samba foi escrita por Mauro de Almeida
e Donga .
Tempos depois, o samba toma as ruas e espalha-se pelos carnavais do Brasil.
Neste período, os principais sambistas são: Sinhô Ismael Silva e Heitor
dos Prazeres .
Na década de 1930, as estações de rádio, em plena difusão pelo Brasil, passam a
tocar os sambas para os lares. Os grandes sambistas e compositores desta época
são: Noel Rosa autor de Conversa de Botequim; Cartola de As Rosas Não Falam;
Dorival Caymmi de O Que É Que a Baiana Tem?; Ary Barroso, de Aquarela do
Brasil; e Adoniran Barbosa, de Trem das Onze.
Na década de 1970 e 1980, começa a surgir uma nova geração de sambistas.
Podemos destacar: Paulinho da Viola, Jorge Aragão, João Nogueira, Beth
Carvalho, Elza Soares, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Chico Buarque,
João Bosco e Aldir Blanc.
Outros importantes sambistas de todos os tempos: Pixinguinha, Ataulfo Alves, Carmen
Miranda (sucesso no Brasil e nos EUA), Elton
Medeiros, Nelson Cavaquinho, Lupicínio Rodrigues, Aracy de Almeida, Demônios da
Garoa, Isaura Garcia, Candeia, Elis Regina, Nelson Sargento, Clara Nunes,
Wilson Moreira, Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Lamartine Babo.
Bahia, Rio de Janeiro
e São Paulo
Os tipos de samba mais conhecidos e que fazem mais sucesso são os da Bahia, do
Rio de Janeiro e de São Paulo. O samba baiano é influenciado pelo lundu e
maxixe, com letras simples, balanço rápido e ritmo repetitivo. A lambada, por
exemplo, é neste estilo, pois tem origem no maxixe.
Já o samba de roda, surgido na Bahia no século XIX, apresenta elementos
culturais afro-brasileiros. Com palmas e cantos, os dançarinos dançam dentro de
uma roda. O som fica por conta de um conjunto musical, que utiliza viola,
atabaque, berimbau, chocalho e pandeiro.
No Rio de Janeiro, o samba está ligado à vida nos morros, sendo que as letras
falam da vida urbana, dos trabalhadores e das dificuldades da vida de uma forma
amena e muitas vezes com humor.
Entre os paulistas, o samba ganha uma conotação de mistura de raças. Com
influência italiana, as letras são mais elaboradas e o sotaque dos bairros de
trabalhadores ganha espaço no estilo do samba de São Paulo.
Principais tipos de
samba:
Samba-enredo
Surge no Rio de Janeiro durante a década de 1930. O tema está ligado ao
assunto que a escola de samba escolhe para o ano do desfile. Geralmente segue
temas sociais ou culturais. Ele que define toda a coreografia e cenografia
utilizada no desfile da escola de samba.
Samba de partido alto
Com letras improvisadas, falam sobre a realidade dos morros e das
regiões mais carentes. É o estilo dos grandes mestres do samba. Os compositores
de partido alto mais conhecidos são: Moreira da Silva, Martinho da Vila e
Zeca Pagodinho.
Pagode
Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, nos anos 70 (década de 1970), e ganhou as rádios e pistas de dança na década
seguinte. Tem um ritmo repetitivo e utiliza instrumentos de percussão e sons
eletrônicos. Espalhou-se rapidamente pelo Brasil, graças às letras simples e
românticas. Os principais grupos são : Fundo de Quintal, Negritude Jr., Só Pra
Contrariar, Raça Negra, Katinguelê, Patrulha do Samba, Pique Novo, Travessos,
Art Popular.
Samba-canção
Surge na década de 1920, com ritmos lentos e letras sentimentais e
românticas. Exemplo: Ai, Ioiô (1929), de Luís Peixoto.
Samba carnavalesco
Marchinhas e Sambas feitas para dançar e cantar nos bailes carnavalescos. exemplos :
Abre alas, Apaga a vela, Aurora, Balancê, Cabeleira do Zezé, Bandeira Branca,
Chiquita Bacana, Colombina, Cidade Maravilhosa entre outras.
Samba-exaltação
Com letras patrióticas e ressaltando as maravilhas do Brasil, com acompanhamento
de orquestra. Exemplo: Aquarela
do Brasil, de Ary Barroso gravada em 1939 por Francisco Alves.
Samba de breque
Este estilo tem momentos de paradas rápidas, onde o cantor pode incluir
comentários, muitos deles em tom crítico ou humorístico. Um dos mestres deste
estilo é Moreira da Silva .
Samba de
gafieira
Foi criado na década de 1940 e tem acompanhamento de orquestra. Rápido e
muito forte na parte instrumental, é muito usado nas danças de salão.
Sambalanço
Surgiu nos anos 50 (década de
1950) em boates de São Paulo e Rio de Janeiro. Recebeu uma grande influência do
jazz.. Um dos mais significativos representantes do sambalanço é Jorge Ben
Jor, que mistura também elementos de outros estilos.
Dia Nacional do Samba
- Comemora-se em 2 de
dezembro o Dia Nacional do Samba.
Tambor
da memória
O
samba retratou, como nenhum outro ritmo, a história e os costumes do país
Beatriz
Velloso e Cláudio Henrique, do Rio
Desde
1995 o desempenho nas aulas de História dos alunos da Escola Municipal Equador,
em Vila Isabel, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, melhorou a olhos
vistos. Os pais comemoram notas altas no boletim, os níveis de evasão escolar
caíram e as crianças estão mais interessadas nas aulas. A boa nova tem uma
explicação: é fruto do trabalho da Oficina de Artes e Ofícios Herdeiros da
Vila, que prepara os jovens da favela do Morro dos Macacos para serem
integrantes da Unidos de Vila Isabel. Entre outras atividades no galpão ao lado
do colégio, os futuros sambistas têm aulas inusitadas: eles aprendem o passado
do Brasil a partir dos sambas-enredo do Carnaval carioca. Professores ensinam
as passagens históricas por meio de versos e rimas de outros mestres: os bambas
do samba, compositores como Mano Décio da Viola ou Silas de Oliveira.
“A
partir das músicas, pedimos uma pesquisa sobre cada período. As crianças têm
dois dias para voltar com as redações”, diz Dinorah Afonsina Pires, de 70 anos,
que organiza a oficina. Vocalista do grupo As Gatas – quarteto de sucesso nos
anos 60 e 70 –, ela diz que o segredo é adequar cada samba aos períodos
históricos brasileiros. “A Favorita do Imperador”, defendido pela Imperatriz
Leopoldinense em 1964, serve para discutir a relação da Marquesa de Santos com
dom Pedro I; “Os Cinco Bailes Tradicionais na História do Rio”, enredo do
Império Serrano em 1965, ajuda a analisar o período do império; e “Sublime
Pergaminho”, do desfile de 1968 da Unidos de Lucas, é a senha para debater a trajetória
da princesa Isabel, da Escravidão e da Lei Áurea.
Nos
desfiles do Rio, fatos marcantes da história brasileira sempre estiveram entre
os temas preferidos para nortear melodias sobre surdos e tamborins. “Já tive
muita aula de História ouvindo Silas de Oliveira”, costuma dizer o sambista
Nelson Sargento. As letras de 2002, porém, não confirmam a regra. Hoje, de olho
nos patrocínios, as escolas de samba estão preferindo entoar loas a municípios
ou a Estados da Federação. Mas Santos Dumont, o pai da aviação, abre asas de
resistência e, mantendo a tradição, este ano terá sua memória cultuada na
Marquês de Sapucaí por duas escolas: Beija-Flor e Salgueiro.
Contar
a história do Brasil é mesmo uma sina do samba – desde quando ainda era apenas
um canto de ex-escravos em busca de forma e conteúdo nas rodas que, no início
do século XX, reuniam músicos na casa da baiana Tia Ciata, no Rio. O mais
brasileiro dos ritmos fez do dois por quatro o compasso ideal para cantar não
apenas o passado, mas também os costumes da sociedade brasileira. Seja nas
crônicas musicais de Noel Rosa, seja nos protestos poéticos de Chico Buarque,
os mais de 80 anos do samba espelham a trajetória do país.
O
samba-enredo não guarda tanto mérito no registro do cotidiano nacional. Em
geral as músicas que embalam passistas tendem a descrever fatos históricos
isolados ou homenagear personagens brasileiros. “Essa tradição começou em 1938,
quando o nacionalismo fez Getúlio Vargas proibir letras que falassem de temas
internacionais”, conta o pesquisador Hiram Araújo, autor de livros sobre a
história do Carnaval. Naquele ano, a escola Vizinha Faladeira seria impedida de
desfilar com o enredo “Branca de Neve e os Sete Anões”. A proibição a temas
estranhos à cultura nacional só foi extinta em 1997.
A
forma como as diferentes manifestações do samba tratam a história e o cotidiano
nacionais tem muito do tipo de “quintal” onde se manifestam. Assim, o
samba-enredo sempre foi comportado na temática social por se tratar de exibição
pública, espetáculo para multidões, acompanhado não apenas pelos olhares do
público, mas também pelo crivo atento dos governos de linha dura ou da Liga. Já
a marchinha sempre preferiu as hordas da inconseqüência. Música de bailes,
prima pela franqueza, como se a liberdade fosse garantida pelas paredes dos
salões de Carnaval. O samba que sai dos violões da MPB é o que vai ganhar os
palcos. Sua elaboração poética e sua força de protesto têm motivo. Teatros e
shows de música lembram assembléias estudantis – em que as palavras de ordem
são o aplauso ou a vaia.
Os
sambas-enredo quase nunca tratam de fatos do cotidiano, mas a própria escolha
dos temas históricos revela o que ia pelo país a cada mês de fevereiro. “Com
‘Quilombo dos Palmares’, em 1960, o Salgueiro, pela primeira vez, levou à
avenida a história dos negros", diz Araújo. Ele conta que foi difícil
conseguir quem quisesse desfilar com as fantasias. “Todo mundo estava
acostumado a sair de rei, rainha, papéis de brancos”, explica. O pesquisador
Roberto Moura identifica nos enredos do Salgueiro nos anos 60 o início da
conscientização dos negros sobre sua história. “Até ali, os negros gostavam de
desfilar vestindo-se de brancos”, diz Moura, citando “Xica da Silva”, enredo do
Salgueiro em 1963, como mais um retrato das mudanças sociais. “Marcou a chegada
da mulher como tema de samba-enredo.”
Durante
os anos da ditadura militar, as
escolas souberam também criticar, nas entrelinhas, o regime autoritário. Dois
exemplos foram “História da Liberdade no Brasil” (Salgueiro, 1967) e “Heróis da
Liberdade” (Império Serrano, 1969). “Eram sambas que falavam de liberdade e
interrompiam a narrativa histórica pouco antes do golpe militar. Ambos tiveram
problemas com a censura, mas foram à avenida”, conta Araújo. “A Polícia Federal
esteve na concentração do Império e por pouco a escola não desfilou”, lembra
Roberto Moura. As escolas de samba do Rio ainda dariam outros exemplos de que
samba e história do Brasil podem formar um conjunto harmonioso como mestre-sala
e porta-bandeira. Em 1989, a Beija-Flor deu aula de crítica social com o enredo
“Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, que levou à avenida foliões vestidos
com farrapos, como mendigos. Fome e pobreza no salão.
O
pesquisador Zuza Homem de Mello lamenta que encontrar referências ao momento
atual do país nas letras dos sambas-enredo de hoje seja tão difícil quanto
esbarrar com um pierrô nas ruas das cidades. “Uma pessoa que ouvir o CD dos
sambas de 2002 daqui a 20 anos não vai saber nada sobre como estava o Brasil”,
critica. “As possibilidades de fantasias geradas pelo tema agora mandam na
escolha do enredo. A estética está no poder, o que é uma pena.”
Autor
de um dos mais importantes livros sobre a música brasileira no século XX – A Canção no Tempo, que analisa os maiores sucessos no país entre
1901 e 1985 –, Homem de Mello diz que nenhum outro gênero de samba teve uma
visão crítica e de crônica social como a marchinha carnavalesca. “Como era uma
música de vida curta, pois tocava nas rádios somente de dezembro à Quarta-Feira
de Cinzas, os compositores precisavam de letras fáceis, que fossem
compreendidas no salão”, conta. Daí o hábito de abordar assuntos da ordem do
dia. “Era a garantia de que a música iria pegar.”
Ele
cita como exemplo a marcha “Chiquita Bacana” (1949), em que João de Barro e
Alberto Ribeiro debochavam do movimento existencialista então em voga. Da moda
que se via nas ruas às vitórias e derrotas políticas de Getúlio Vargas, o
inventário das marchas de Carnaval é um documento dos anos 40 aos 60 no Brasil.
“Hoje as letras dos blocos de Carnaval do Rio cumprem essa função”, diz
Alexandre Medeiros, comentarista de Carnaval do site Globo On Line e da Rede
Bandeirantes.
Aproveitar
os acontecimentos da atualidade como mote para letras era uma tendência já nos
primórdios do samba. “‘Pelo Telefone’, o primeiro samba gravado, em 1917, era
exemplar, pois cantava uma evolução tecnológica que estava sendo incorporada ao
dia-a-dia dos cidadãos”, comenta Homem de Mello. A música, de autoria de Donga,
ilustra outras características do período. “O samba daquele tempo mostrava o
cotidiano no campo e nas fazendas, e também da escravidão”, ensina Carlos
Sandroni, professor do Departamento de Música da Universidade Federal de
Pernambuco e autor de Feitiço Decente, livro sobre a gênese do samba. “Pelo Telefone” faz
referência à vida na roça (a letra diz: Ai,
se a rolinha/Se embaraçou/É que a avezinha/nunca sambou) e à escravidão (na repetição das palavras sinhô e
sinhá, antes usadas por escravos ao se referir a seus senhores). “Logo as
letras de samba espelhariam fenômenos que a sociedade brasileira atravessava,
passando a falar da realidade urbana, sinal da crescente urbanização do país”,
diz Sandroni.
É
nesse momento que a trajetória do samba, como documento da história do país,
ganha seu principal marco. “Nenhum outro sambista antes de Noel Rosa havia
retratado tão bem seu tempo por meio de música. Olhando a obra de Noel, é
possível ver um retrato dos anos 30. É um documento histórico”, diz Homem de
Mello. O professor de História Ramiro Lopes Bicca Júnior acaba de lançar tese
de mestrado na PUC de Porto Alegre em que identifica elementos socioculturais
do Brasil na obra do compositor. “Noel ultrapassou as fronteiras imediatistas a
sua volta para expressar o conjunto da identidade nacional. Sua música e sua
poesia são expressões atemporais do que é ser brasileiro”, escreveu Bicca
Júnior.
O
estilo de cronista musical passaria a
ser uma marca não só do samba, mas de toda a música popular brasileira. “Chico
Buarque e Aldir Blanc são as maiores expressões desse jeito de fazer samba, com
ligação íntima com as principais questões brasileiras e do cotidiano”, diz o
crítico musical João Máximo. Numa análise do cancioneiro popular, Roberto Moura
observa que os compositores tendem a procurar o samba quando querem falar do
Brasil. “Tanto no samba-exaltação de Herivelto Martins e Ari Barroso, que
enaltecia as belezas do país, como na crônica de costumes de Noel e Chico”,
exemplifica.
Não
por acaso a bossa nova – que mesclava a harmonias belas e rebuscadas letras que
falavam de barquinhos e saudade – teve seu momento de cisão justamente quando
Nara Leão, uma das pioneiras no gênero, optou pelo samba engajado que vinha do
morro, com sambistas como Zé Kéti, e foi parar no teatro Opinião. Moura não
acha, porém, que o compositor popular opte pelo samba por identificar nele um
ritmo nacionalista e, portanto, mais adequado para embalar canções de
resistência. “Chico Buarque, por exemplo, tem uma relação visceral com o samba.
Não foi Vinicius de Moraes, como muita gente pensa, que fez Chico compor, mas
Ismael Silva, que era amigo de seu pai e freqüentava sua casa”, conta.
Zuza
Homem de Mello também não entende que fazer samba seja, em alguns momentos, uma
atitude política. “É claro que a própria origem da música, surgida dos
escravos, das classes pobres, do morro, traz embutida uma questão social. Mas
não acho que o samba seja propositadamente usado para fazer protestos políticos
ou sociais”, comenta. “Isso acontece pelo simples fato de o samba ser o ritmo
mais natural para qualquer brasileiro.” O pesquisador defende a tese de que os
artistas de rap e hip-hop, que vêm surgindo nas favelas do Rio e de São Paulo,
são herdeiros diretos de sambistas como Zé Kéti e Bezerra da Silva. “Também são
música de protesto e também são feitas pelas camadas mais baixas. A única
diferença é que refletem a influência da música americana no Brasil”,
justifica. “A mensagem do hip-hop é muito mais agressiva, o rapper da periferia
bate mais forte que o sambista com suas letras. E isso ocorre porque viver numa
favela hoje é muito mais difícil do que era nos anos 40 ou 50”, argumenta.
Assim, o rap e o hip-hop podem estar se juntando ao samba na tarefa de
registrar, em versos, o cotidiano brasileiro. Uma função histórica que poderá
ser conferida nos próximos 100 anos.
1
Portal de Educação Musical do Colégio Pedro II –
www.portaledumusicalcp2.mus.br
História da Música Popular Brasileira
Nossa música é riquíssima em estilos, gêneros e movimentos.
Do século XVIII
(dezoito), quando o Brasil ainda era uma colônia até o final
do século XIX, passando
pelo período do Império e posteriormente a República, a
produção musical foi
tomando ares nacionais, com o aparecimento de gêneros
musicais brasileiros como o
maxixe e o choro. Vamos fazer um breve passeio por essa
história!
Gêneros e Movimentos musicais nacionais:
A Modinha e o Lundu
Desde o século XVIII (dezoito), quando o Brasil ainda era
colônia de Portugal, os
brasileiros já cultivavam dois gêneros lítero‐musicais: a
modinha e o lundu. Nos
saraus, espécie de reunião onde se recitavam poemas e se
cantavam músicas em
tardes e noites cariocas, os dois gêneros causavam furor
entre os jovens enamorados.
Eram nestes encontros musicais que se podiam ouvir pianos,
violas e cantores
diletantes, derramando lirismo e sarcasmo.
Lundu de Rugendas
A Modinha foi gênero lírico, cantando o amor impossível, as
queixas dos
apaixonados e desiludidos. Já o lundu era gênero cômico com
letras engraçadas e
cheias de duplo sentido, que levavam os ouvintes às
gargalhadas muitas vezes. Haviam
até lundus proibidos às moças e crianças! Era o caso dos
lundus de Laurindo Rabello,
um militar que adorava divertir seus amigos ao som de seus
picantes lundus.
Domingos Caldas Barbosa2
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O mais importante compositor e cantor de modinhas e lundus,
no século XVIII,
Domingos Caldas Barbosa, era um padre que não usava batina e
tocava viola.
Duas músicas de grande sucesso da época foram:
O Lundu da Marrequinha (Francisco de Paula Brito – Francisco
Manuel da Silva)
Os olhos namoradores
Da engraçada iaiásinha,
Logo me fazem lembrar
Sua bella marrequinha.
Iaiá, não teime,
Sólte a marreca
Senão eu morro, refrão
Leva‐me a breca.
Se dansando á Brasileira,
Quebra o corpo a iaiásinha,
Com ella brinca pulando
Sua bella marrequinha
Quem a vê terna e mimosa,
Pequenina e redondinha,
Não diz que conserva prêsa
Sua bella marrequinha.
Nas margens da Caqueirada
Não há só bagre e tainha:
Alli foi que ella creou
Sua bella marrequinha.
Tanto tempo sem beber...
Tão jururú... coitadinha!..
Quasi que morre de sêde
Sua bella marrequinha.
“Marrequinha "era um tipo de laço dado no vestido das
moças do séc. XIX, usado atrás
das nádegas.
Quem sabe ou “Tão Longe de mim distante” (Carlos Gomes)
Tão longe de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!
Tão longe de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!
Quizera saber agora
Quizera saber agora
Se esqueceste,
Se esqueceste,
Se esqueceste o juramento
Quem sabe se é constante
S'inda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade, da saudade agro tormento
Vivendo de ti ausente,
Ai meu Deus,
Ai meu Deus que amargo pranto!
Vivendo de ti ausente,
Ai meu Deus,
Ai meu Deus que amargo pranto!
Suspiros angustiadores
São as vozes do meu canto
Quem sabe
Pomba innocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei já n'este canto
O Teatro de Revista e o maxixe
O Teatro de Revista foi um gênero de espetáculo musicado
muito em voga no
final do século XIX. Foi esse gênero de produção que
empregou inúmeros músicos,
cantores, compositores e maestros na época. A compositora
Chiquinha Gonzaga foi
uma das mais importantes compositoras para esse gênero de
espetáculo, compondo
muitos maxixes.3
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A característica principal do Teatro de Revista era contar
uma história de forma
satírica e cômica, geralmente baseada em acontecimentos
ocorridos ao longo do ano,
no campo da política e da cultura. Os textos eram sempre
entremeados de números
musicais, onde alguns gêneros como o maxixe se destacaram.
O bailarino Duque e uma de suas parceiras
O maxixe ficou conhecido como um gênero musical associado à
dança do
mesmo nome. O maxixe‐dança surgiu em bailes populares de
clubes recreativos,
comumente denominados “gafieiras” que proliferaram no Rio de
Janeiro em fins do
século XIX. O estilo de dançar foi considerado obsceno na
época, porque os dançarinos
ficavam muito enroscados um no outro, fazendo meneios e
rebolados. Talvez algo
parecido com o que vemos hoje com a dança do funk. Apesar
disso, o maxixe ganhou
expressão internacional. O grande divulgador da dança do
maxixe na Europa foi sem
dúvida o dançarino Duque, que ao lado de suas parceiras
Maria Lina, Gaby e Arlette
Dorgère conquistou grande sucesso em Paris dançando um
maxixe mais refinado, sem
os excessos do maxixe das gafieiras e aceitável pelas
camadas médias.
Charge de Kalixto mostrando a dança do maxixe
Arthur Azevedo, um dos grandes autores teatrais4
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Peças, autores e músicas famosas do Teatro de Revista
Um dos mais importantes autores do gênero foi Arthur
Azevedo. São dele, por
exemplo, as revistas O Bilontra e Capital Federal, musicada
por Chiquinha Gonzaga.
Anúncio da Revista O Bilontra de Arthur Azevedo
O maxixe conquista teatros e salões de baile e
se
firma como a dança da moda
Pernas entrelaçadas e umbigos que saracoteiam em lambadas
recíprocas dão o
tom da mais nova febre que assola as sociedades
carnavalescas e teatros da cidade: o
maxixe. O balanço irresistível do maxixe, de tão variado,
não pode ser classificado
como um ritmo musical. O que caracteriza o maxixe é uma
coreografia muito peculiar,
provocante a ponto de roçar os limites do decoro, que vem
despertando celeuma na
mesma medida em que a dança se firma como o prato predileto
nos salões de baile
populares do Rio de Janeiro. Para se dançar maxixe, é
necessário ter os pés
praticamente plantados no chão ‐ mexe‐se pouco
com eles ‐ e responder aos apelos
sincopados da música com acentuados requebros de cintura.
Dança‐se maxixe com os
corpos colados, e alguns cavalheiros tomam a liberdade de
pousar as mãos abaixo da
cintura de suas parceiras durante os volteios. Com esses
movimentos ousados, cabe
perguntar se o ritmo da moda é uma dança saborosa e inovadora
ou apenas uma
indecência ao som de música sincopada.
A rainha do maxixe no Rio de Janeiro, a maestrina e
compositora Francisca
Edwiges Gonzaga, de 42 anos, conhecida como "Chiquinha
Gonzaga", sabe muito bem
PROBLEMAS COM A CENSURA
Podemos ver através de uma matéria publicada em jornal no
dia 20 de
novembro de 1889, a grande polêmica que a dança do maxixe
causou na
sociedade carioca. Sua aparição no ato final do teatro de
revista “A Corte na
Roça” de Chiquinha Gonzaga causou grande alvoroço nos salões
de dança do Rio
de Janeiro republicano. Veja o que diz a matéria:5
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o que significa o escândalo em torno do novo ritmo. Renomada
professora de música e
compositora no Rio de Janeiro, ela coloca no frontispício
das partituras de seus
maxixes a denominação "tango brasileiro". "Se
eu colocar nas músicas o termo maxixe,
elas não entram nas casas de família que têm piano",
queixa‐se a compositora. Foi ela
também a responsável pela introdução do maxixe nos palcos
dos teatros, a bordo da
revista musical A Corte na Roça, de 1885
‐ primeira opereta com música escrita por
uma mulher a ser encenada nos palcos brasileiros. O teatro
que exibia a peça sofreu
ameaça de interdição por parte da polícia, que queria cortar
a cena final aquela em
que um casal de capiaus aparece maxixando com todos os
requebros e trejeitos, num
alucinante vai‐e‐vem de umbigos. "Na roça não se dança
de maneira tão indecente",
observou um crítico na época.
A polícia implicou com A Corte na Roça, na verdade, por
motivos políticos.
Chiquinha Gonzaga, que gosta de se ocupar de assuntos
masculinos como a política,
foi abolicionista e é republicana ferrenha. Na peça, ela
incluiu os seguintes versos,
cantados na voz de um caipira:
Já não há nenhum escravo
Na fazenda do sinhô
Todos são abolicionistas
Até mesmo o imperador.
A polícia exigiu que se trocasse a palavra
"imperador" por "doutor". Hoje, se
Chiquinha decidisse remontar a peça, não teria quaisquer
problemas com a polícia. E o
sucesso estaria garantido ‐ nos últimos tempos, as
peças de maior público são aquelas
que incluem, entre suas atrações, números de maxixe.
Mesmo com toda a oposição dos defensores da moral, as
sociedades carnavalescas
nas quais se pratica o maxixe vêm sendo freqüentadas, com
cada vez mais intensidade,
por rapazes da alta sociedade; e as partituras do ritmo,
escondidas sob o pseudônimo
de tangos brasileiros, penetram furtivamente dentro dos
lares, onde moças de família
as executam ao piano. Mistura da melodia expressiva do
chorinho com a métrica
sincopada e pulsante do lundu, o maxixe, ao lado das
modinhas imperiais ‐ que
acontecerá a esse nome com a queda do Império? ‐, tem
tudo para se firmar como a
moda musical do momento. A exemplo da modinha, a princípio
considerada chula e
lasciva, e que hoje começa a ganhar aceitação nos círculos
mais nobres da sociedade, o
maxixe vem dando uma lambada em seus opositores e fazendo da
polêmica que
desperta mais um atrativo. A proibição redobra o prazer de
remexer a cintura e trocar
confidências diretamente de umbigo a umbigo.6
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O choro e os chorões
O choro pode ser considerado como a primeira música urbana
tipicamente
brasileira. Os primeiros conjuntos de choro surgiram por
volta de 1880, no Rio de
Janeiro ‐ antiga capital do Brasil.
Esses grupos eram formados por músicos ‐ muitos
deles funcionários da
Alfândega, dos Correios e Telégrafos, da Estrada de Ferro
Central do Brasil ‐ que se
reuniam nos subúrbios cariocas ou nas residências do bairro
da Cidade Nova, onde
muitos moravam.
O nome Choro veio do jeito choroso da música que esses
pequenos conjuntos
faziam. A composição instrumental desses primeiros grupos de
chorões (nome dado
aos músicos de choro) girava em torno de um trio formado por
flauta, instrumento
que fazia os solos; violão, que fazia o acompanhamento como
se fosse um contrabaixo
— os músicos da época chamavam esse acompanhamento grave de
"baixaria" ‐; e
cavaquinho, que fazia o acompanhamento mais harmônico, com
acordes e variações.
A história do choro iniciou em meados do século XIX, época
em que as danças
de salão passaram a ser importadas da Europa. A abolição do
tráfico de escravos, em
1850, provocou o surgimento de uma classe média urbana
(composta por pequenos
comerciantes e funcionários públicos, geralmente de origem
negra), segmento de
público que mais se interessou por esse gênero de música.
Em termos de forma musical, o choro costuma ter três partes
(ou duas,
posteriormente), que seguem a forma rondó (sempre se volta à
primeira parte, depois
de passar por cada uma delas).
Os conjuntos que o executam são chamados de regionais e os
músicos,
compositores ou instrumentistas, são chamados de chorões.
Apesar do nome, o
gênero é em geral de ritmo agitado e alegre, caracterizado
pelo virtuosismo e
improviso dos participantes, que precisam ter muito estudo e
técnica, ou pleno
domínio de seu instrumento.
Choro, pintura de Portinari7
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Violão de 7 e de 6 cordas, bandolim, flauta, cavaquinho e
pandeiro – instrumentos
preferidos dos chorões
Hoje o conjunto regional é geralmente formado por um ou mais
instrumentos
de solo, como flauta, bandolim e cavaquinho, que executam a
melodia, o cavaquinho
faz o centro do ritmo e um ou mais violões e o violão de 7
cordas formam a base do
conjunto, além do pandeiro como marcador de ritmo.
OS Grandes Chorões do passado
O flautista e compositor Joaquim Antônio da Silva Callado é
conhecido como o
pai dos chorões e foi o mais popular músico do Rio de
Janeiro imperial. Ele é
considerado um dos criadores do Choro, ou pelo menos um dos
principais
colaboradores para a fixação do gênero. Seu maior sucesso é
Flor Amorosa, número
obrigatório para qualquer flautista de choro.
Joaquim Callado – O primeiro chorão e sua amiga, Chiquinha
Gonzaga
De seu grupo fazia parte a pioneira maestrina Chiquinha
Gonzaga, não só a
primeira chorona, mas também a primeira pianista do gênero.
Em 1897, Chiquinha
escreveu para uma opereta o cateretê Corta‐Jaca, uma das
maiores contribuições ao
repertório do choro.8
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Ernesto Nazareth em dois momentos de sua vida
Ernesto Júlio de Nazareth foi mais que um pianista de bailes
e saraus do final
do séc. XIX e início do séc. XX. Ele foi a pessoa que
encontrou a maneira mais eficaz de
se reproduzir um conjunto de choro no piano, criando um
estilo inigualável. Músico de
trajetória erudita e ligado à escola européia de
interpretação, Nazareth compôs
Brejeiro (1893), Odeon (1910) e Apanhei‐te Cavaquinho
(1914), que romperam a
fronteira entre a música popular e a música erudita, sendo
vitais para a formação da
linguagem do gênero.
O compositor Anacleto de Medeiros nasceu em Paquetá, filho
natural de uma
“crioula liberta”, como consta na sua certidão de
nascimento. Ele é apontado como o
criador do schottisch brasileiro. Anacleto foi fundador,
diretor e maestro de muitas
bandas, tendo contribuído de maneira fundamental para a
fixação dessa formação no
Brasil. A tradição de bandas se reflete até hoje, por
exemplo no desenvolvimento de
uma sólida escola de sopros. A banda que se tornou mais
famosa sob sua regência foi a
do Corpo de Bombeiros, que chegou a gravar alguns dos discos
pioneiros produzidos
no Brasil, nos primeiros anos do século XX.
Anacleto de Medeiros
O flautista e saxofonista Alfredo da Rocha Vianna Filho, o
Pixinguinha,
contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma
forma definida. Para isso,
introduziu elementos da música afro‐brasileira e da música
rural nas polcas, valsas,
tangos e schottischs dos chorões. Ele é considerado o maior
chorão de todos os
tempos. É de sua autoria o clássico Carinhoso, música
obrigatória no repertório do
choro.9
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O Genial Pixinguinha e Pixinguinha com os 8 Batutas, seu
famoso grupo
Outra personalidade de importante na história do choro foi o
carioca Jacob Pick
Bittencourt, o Jacob do Bandolim, famoso não só por seu
virtuosismo como
instrumentista, mas também pelas rodas de choro que promovia
em sua casa, nos
anos 50 e 60. Sem falar na importância de choros de sua
autoria, como Remeleixo,
Noites Cariocas e Doce de Côco, que já fazem parte do
repertório clássico do choro.
Jacob e seu bandolim e Waldir Azevedo e o cavaquinho
Contemporâneo de Jacob, Waldir Azevedo superou‐o em termos
de sucesso
comercial, graças a seu pioneiro cavaquinho e choros de
apelo bem popular que veio a
compor, como Brasileirinho (lançado em 1949) e Pedacinhos do
Céu.